Quando fui convidada a escrever um
artigo aqui no Luz para Cego, fiquei pensando em qual tema abordar. Afinal de
contas, quando moramos em outro país existem tantos temas interessantes e curiosos
que fica difícil escolher. Por fim, resolvi abordar um assunto que mesmo
muito debatido, principalmente em tempos de internet, é importante e nunca
demais: o príncipe encantado estrangeiro.
Sim, geralmente a imagem do príncipe
estrangeiro vem carregada de ilusões e expectativas, que variam obviamente
conforme o objetivo da mulher que sonha. Muitas sonham com o encontro de sua
alma gêmea, outras com a aventura do diferente, outras tantas em fugir de suas
realidades,algumas ainda em melhorar sua situação financeira, sem esquecer
aquelas que buscam pelo “status”de ser casada com um estrangeiro e por aí
afora. E assim, no entusiasmo e ânsia de realizarem seus sonhos e objetivos se
esquecem da cautela e mergulham de cabeça em um ilusório conto de fadas que
logo pode se tornar um pesadelo.
Veja bem, não estou dizendo que isso
acontece com todas as mulheres que se casam com estrangeiros, mas é a realidade
de muitas. Em primeiro lugar é preciso ter em mente que aparência e
nacionalidade não dizem absolutamente nada sobre o caráter de uma pessoa. O
bonitão, alto, loiro de olhos claros e passaporte europeu pode ser uma
pessoas problemática e violenta, por isso ter o máximo de informação possível
nunca é demais.
Você sabia, por exemplo, que os países
europeus com maior índice de violência contra a mulher são os aqui do norte? De
acordo com uma pesquisa feita pela European
Union Agency for Fundamental Rights (http://fra.europa.eu/en/press-release/2014/violence-against-women-every-day-and-everywhere) a maior porcentagem de vítimas
estão na: Dinamarca
(52%), Finlândia (47%) Suécia (46%) e Holanda (45%). Dados surpreendentes para países que se
dizem emancipados no que diz respeito a igualdade dos gêneros, não é mesmo?
Esse quadro fica ainda mais nebuloso quando a mulher é estrangeira não fala
holandês (ou o idioma do país que mora) e nem inglês, não possui amigos e/ou
conhecidos a quem possa recorrer e não possui reserva de dinheiro próprio.
Muitas se calam e os motivos para isso são os mais variados possíveis; medo,
filhos, dependência emocional e financeira, obtencão do passaporte europeu,
perda de um suposto “status” e por aí afora.
De
acordo com a mesma pesquisa acima citada, a violência contra a mulher aqui na
Europa do Norte tem os mais diversos contornos, passando pela violência física,
psicológica e até mesmo virtual.
Ao
me mudar para a Holanda me espantei com a quantidade de histórias violentas com
as quais me deparei e é triste dizer, mas todas as vítimas optaram por
permanecer com o agressor considerando que se voltassem ao país de origem não
teriam o mesmo padrão de vida que (acham) que possuem aqui, além da vergonha de
se defrontar com amigos e parentes e assumir que o suposto conto de fadas
fracassou.
A
problemática de brasileiras que se casam com estrangeiros e passam a sofrer
abusos tem tomado uma dimensão tão grande que o Itamaraty lançou uma campanha
que alerta para o cuidado de se ter informações e convivência mais profunda com
o namorado estrangeiro antes de tomar a decisão de mudar de país (ver alerta
na pagina do Itamaraty no Facebook https://www.facebook.com/ItamaratyGovBr/photos/a.147451148621511.22424.125578787475414/1082839871749296/?type=3&fref=nf).
Portanto
eu deixo aqui algumas dicas caso voce esteja se relacionando com um “gringo” e
ainda não arrumou as malas :
– Falar um idioma em comum:
Se
vocês não falam nenhum idioma em comum fica difícil estabelecer um
relacionamento com bases mais sólidas, afinal trocar idéias, falar de
sentimentos, estabelecer limites, tudo isso demanda uma linguagem além do
google tradutor e da mímica.
– Informação e mais informação:
Não
importa se você conheceu seu namorado pessoalmente ou virtualmente, o
importante é obter o máximo de informação possível e isso só se adquire com
muita conversa. Veja bem, muitas moças gabam-se de não ter conhecido seus
parceiros pela internet, mas será que existe tanta diferença assim caso voce o
tenha conhecido durante o curto período de férias dele no Brasil por exemplo ?
Ë bom lembrar que durante as férias as pessoas estão mais relaxadas, livres do
stress e tensão do dia a dia e por isso mesmo mostram apenas um lado leve e
relaxado da personalidade e montar uma máscara de bonzinho é mais fácil ainda
quando se está em outro país e não existe ninguém que possa dar informações
pessoais.
Por
isso, checar o nome da pessoa no google e sua página no facebook, manter longas
conversas via Skype, email, chats, telefone, etc é muito importante , sendo
assim:
– Não tenha pressa:
Todo
relacionamento precisa de tempo para amadurecer e muitas características de
personalidade e da vida da pessoa só virão á tona com o tempo. Conheço casais
que se relacionaram por muitos anos á distância até decidirem se casar. Um
namoro transcontinental não é fácil mas , acredito, que ajuda a prevenir
algumas surpresas desagrádaveis.
– Preste atenção á detalhes e
comportamentos estranhos :
Em
conversas via Skype voce nota algo estranho no ambiente que a pessoa se
encontra, ele mostra outros aposentos da casa á você, algum amigo e / ou
parente sabe do relacionamento de vocês ? Se você deixa de ligar, enviar email
etc qual é a reação dele ? Em algum momento ele teve um comportamento sem nexo
? Estar alerta é fundamental, para evitar situações como a de uma brasileira
que após um namoro relampâgo á distância com um alemão descobriu após dois anos
de casamento e dois filhos que o marido sofria de grave doença mental. Condição
esta que foi escondida por ele e pela família até quando sobreveio uma crise e
aí não foi mais possível ocultar o problema.
– Não exponha sua privacidade :
Enviar
fotos sensuais ou deixar-se filmar em situações íntimas é um tanto quanto
arriscado, lembre-se que o relacionamento pode não ir adiante e depois por um
motivo ou outro ter essas imagens divulgadas no mundo virtual pode trazer
consequências desagradaveis em sua vida. Por mais que voce esteja apaixonada é
importante manter os pés no chão.
– Que ele venha primeiro te visitar:
Por
maior que seja sua vontade encontrar a pessoa com a qual esteja se relacionando
e até mesmo de conhecer o país dele, é aconselhável usar o bom senso e deixar
ele ir te visitar primeiro, mesmo que o primeiro encontro de voces tenha sido
pessoalmente. Isso porque você estará dentro de um ambiente que domina e terá a
oportunidade de observar a reação dele quando em contato com seus amigos e
parentes. Além de não se colocar numa situação de risco desnecessária. Uma ex
colega de trabalho teve exatamente essa atitude com um estrangeiro que conheceu
via internet, ele foi visita-la no Brasil e assim ela pôde constatar
pessoalmente duas coisas : a primeira que ele mentiu quanto á idade, pois ao
verificar o passaporte dele em determinado momento, pode ver que a informação
nao batia e a segunda é que ele se mostrou antipático com os amigos dela e
controlador com relação á ela própria. Foi o suficiente para ela ,sabiamente,
terminar o relacionamento virtual que já durava um ano.
- Caso
você decida visitá-lo primeiro então :
Deixe
o contato e endereço dele com amigos e parentes, além do contato da Embaixada
Brasileira mais próxima da região que você estará, pode parecer paranóia, mas
vale prevenir. Levar dinheiro extra para emergências é imprescíndivel pois
'ficar na dependência financeira do outro te deixa vulnerável e sob controle.
- Situação familiar :
Informar-se
sobre o relacionamento do namorado com a família dele pode te dar várias pistas
valiosas. Ele mantém contato com ela ? Ou é apenas uma relação formal ? Tem
filhos de outro relacionamento e como se dá o contato ? Lembre-se que muitas
vezes não é fácil se adaptar a uma família de nossa própria cultura e que dirá
de uma cultura diferente. Nem todas as famílias recebem de braços abertos a
futura nora estrangeira e ignorá-la ou faze-la passar por situações humilhantes
não é algo raro de se ver por aqui.
- Situação
financeira e profissional:
Falar
de dinheiro para muitas pessoas é tabu, mas é importante saber sobre a situação
financeira do parceiro, ele tem trabalho ou vive de ajuda governamental? Tem
dívidas? Tem economias guardadas? E você qual a sua situação financeira? Caso
o relacionamento não dê certo voce tem como retornar ao Brasil com recursos
próprios e recomeçar ? Ele prefere que voce trabalhe ou aceita que fique em
casa?
Já
tomei conhecimento de inúmeros casos em que o parceiro estrangeiro obriga a
companheira a trabalhar para pagar dívidas e ás vezes até mesmo imóveis que ele
adquiriu antes de conhecê-la. Outros ainda passam a exigir que a mulher comece
a pagar a residência e a alimentação que ele proporcionou á ela durante o
período que ela levou para aprender os rudimentos do idioma.
A
minha intenção com esse texto não é de destruir os sonhos e objetivos de
ninguém mas de apenas conscientizar sobre os cuidados a se tomar antes de
entrar de cabeça num relacionamento com um estrangeiro. As dicas acima são
apenas de prevenção e não pretendem impor nada a ninguém, afinal cada um é
responsável por suas próprias escolhas.
Foto: www.folhavitoria.com.br |
Não há como viver sem riscos, mas o bom senso e a objetividade não devem ser esquecidos para que se evite viver um pesadelo!
Para
quem vai se mudar para a Holanda ou já vive aqui segue abaixo algumas
informações importantes:
- Casa Brasil Holanda – Associação de apoio aos brasileiros (http://www.casabrasilholanda.nl)
- Dona Daria – Centro para Mulheres oferecendo apoio social e psicológico (http://donadaria.nl)
- Comensha– Fundação contra o tráfico de mulheres(http://mensenhandel.nl/)
- Vida Legal – orientação jurídica gratuita (http://www.vidalegal.nl)
- I-Psy – Atendimento em saúde mental e psiquiatria na língua portuguesa (https://www.i-psy.nl)
Cíntia Beatrice é paulistana, Bacharel em Turismo e Designer de Interiores, Mestre em
Comunicação e Semiótica pela PUC/SP e mora no Norte da Holanda com o marido .
Atualmente faz parte do grupo de colunistas do blog Brasileiras pelo mundo. (http://www.brasileiraspelomundo.com)
Oi filha concordo com voce,como você eu também vivo no USA e sei de muitas histórias que o sonho Americano termina sendo um pesadelo para muitas pessoas.Cuidado meninas.
ResponderExcluirBeijo filha te amo.
OI mãe
ResponderExcluirObrigada por ler e comentar. :) . Bjs